← Últimos Posts do Blog

🎵 Podcast no Spotify

A ascensão das ferramentas de IA tem gerado manchetes sensacionalistas, com publicações questionando se os empregos dos programadores estão em risco ou sugerindo que a IA está substituindo desenvolvedores juniores. No entanto, esta narrativa overhyped (excessivamente exagerada) falha em capturar as nuances da aplicação da IA, frequentemente incorrendo em simplificações excessivas que levam a conclusões incorretas. A responsabilidade recai sobre os engenheiros e líderes de engenharia para traduzir as verdadeiras limitações e possibilidades dessas ferramentas para suas contrapartes de negócios.

Um dos maiores desafios é a medição do impacto. Métricas superficiais frequentemente divulgadas em manchetes — como linhas de código (LOC) geradas ou taxas de aceitação de sugestões — são amplamente consideradas medidas inadequadas da produtividade e do impacto nos negócios. Olhar apenas para a taxa de aceitação (a porcentagem de sugestões aceitas) não informa se o código gerado aumentou a velocidade, economizou tempo ou ajudou na inovação. A aceitação apenas indica se a ferramenta está minimamente "adequada ao propósito". Como a produção de código-fonte tornou-se trivialmente fácil com a IA, é importante notar que o código-fonte em excesso pode ser visto como um passivo, não como uma métrica de sucesso.

A pesquisa de campo revela que o maior ganho de tempo proporcionado pela IA não está na geração de código mid-loop (código gerado enquanto o desenvolvedor está digitando), que é apenas o terceiro caso de uso mais eficaz. Em vez disso, a economia de tempo mais significativa ocorre na análise de stack traces complicados e no refactoring de código existente. A razão técnica para isso é que a IA, nesses casos, elimina o esforço e o trabalho braçal (toil) de vasculhar grandes saídas de erro e spelunking (busca) no código, proporcionando uma verdadeira economia de tempo líquida. A geração de código, por outro lado, apenas realoca o tempo, movendo a carga de trabalho da digitação rápida para a revisão e iteração do código gerado.

Paradoxalmente, embora a IA economize tempo, alguns estudos, como os da DORA, mostram que muitos desenvolvedores se sentiram menos satisfeitos. Isso ocorre porque a IA está acelerando justamente as partes do trabalho que eles mais gostam (a autoria de código), deixando-os com mais tempo para tarefas menos agradáveis, como reuniões e trabalho administrativo (toil). Considerando que os engenheiros da AWS gastam em média apenas 20% do tempo codificando, uma economia de 10% nesse tempo de codificação não se traduz em um aumento massivo na produção de novas linhas de produto, mas sim em tempo realocado.

Para medir o impacto de forma eficaz, as organizações devem usar uma abordagem estruturada. O DX AI Measurement Framework recomenda avaliar três áreas principais: Utilização (número de usuários ativos diários/semanais), Impacto (resultado tangível, como receita ou experiência do desenvolvedor) e Custo. É crucial que os líderes estabeleçam uma linha de base antes da implementação da IA, usando frameworks de produtividade existentes. Além disso, a combinação de métricas de fluxo de trabalho (sistemas) com métricas auto-relatadas (experiência do desenvolvedor) é essencial, pois nem todos os impactos da IA (como a redução da carga cognitiva ou a melhoria da gestão de interrupções) são observáveis apenas via dados de sistema.

Empresas como a Workhuman demonstraram o valor dessa abordagem, observando um aumento de 11% na experiência geral do desenvolvedor (DX) após a implementação da IA. Especificamente, os desenvolvedores que usavam ferramentas de IA diariamente ou semanalmente apresentaram uma velocidade 15% maior. Esse padrão sugere que a IA não é uma "bala mágica" para resolver tudo, mas sim uma ferramenta para melhorar a Experiência do Desenvolvedor (DX), o que, por sua vez, leva a melhores resultados organizacionais.

A adoção da IA também está impulsionando melhorias arquitetônicas. Os líderes estão se recomprometendo com interfaces limpas entre serviços, o que beneficia tanto os modelos de IA (que usam a base de código de forma mais fácil) quanto os desenvolvedores humanos. Além disso, há uma ênfase crescente na documentação "AI-first" (primeiro para IA), que deve se concentrar em exemplos de código e não em dependências visuais, para que as ferramentas de IA possam fornecer sugestões precisas diretamente no IDE.

Finalmente, a forma como as empresas implementam a IA é fundamental. As indústrias altamente regulamentadas (financeiras, farmacêuticas) estão obtendo os melhores resultados devido à necessidade de rollouts altamente deliberados e estruturados. Empresas como a Indeed adotaram uma mentalidade experimental, realizando testes comparativos de diferentes ferramentas e validando hipóteses, como o uso de IA para revisões de código a fim de reduzir a latência e fechar o loop de feedback. No futuro, os líderes de engenharia enfrentarão o desafio de orçamentar modelos de consumo e agentic (agentes autônomos), com previsões sugerindo que os custos por desenvolvedor podem retornar aos altos níveis históricos de US$ 1.200 a US$ 2.000 por ano ou mais, à medida que a indústria se estabiliza e se consolida.